terça-feira, 29 de março de 2011

Curitiba

Curitiba. Capital ecológica, cidade sorriso, terra de Nossa Senhora da luz, ou simplesmente Curitiba, é a capital do estado do Paraná, e também a maior cidade, com 1.746.896 habitantes em 2010[1]. Elevada a vila em 29 de março de 1693, tornou-se a capital da província recém criada em 19 de dezembro de 1853[2]. Palco de inúmeras páginas importantes da história do Brasil, a capital tingüi contém uma história muito rica, ligada diretamente à evolução econômica do Brasil.
Fundada como uma pequena vila bandeirante, Curitiba logo cresceu devido ao comércio de gado, vindo do Rio Grande do Sul, para Minas Gerais[3]. É lembrança dessa época o bebedouro do Largo da Ordem de São Francisco, assim como o portão que deu origem ao bairro do Portão. Ao entrar pelo sul da cidade, passavam os tropeiros por um portão. Ali se fixaram alguns moradores, que diziam morar próximo ao portão e próximo à rua do portão[4][5][6].
Antes da colonização dos portugueses e paulistas, habitavam na região dos campos de Curitiba os índios tingüis, responsáveis por indicar aos colonizadores a direção para onde estaria olhando a Virgem Candelária[7]. Eram índios da família tupi-guarani, habitando a zona de transição entre a cultura mais tupi, e a cultura guarani[8]. Foram, à época da fundação da cidade, liderados pelo tuxaua Tindiqüera, o qual, a pedido dos primeiros colonizadores, indicou onde ficariam voltados os olhos de Nossa Senhora da Candelária[9].
Os primeiros colonizadores subiram a serra atrás de ouro, que acreditavam haver nos rios da região[10]. O primeiro povoamento criado no atual município de Curitiba fica no atual bairro do Atuba, no parque conhecido como parque municipal histórico do Atuba. De lá, migraram para a região da atual praça Tiradentes, atrás do ponto de visão de Nossa Senhora da luz[11]. Após a mudança, Curitiba foi parte de Paranaguá, até o dia 29 de março de 1693, dia em que foi elevada a vila, e portanto ganhando autonomia. A partir dessa data, a cidade só fez crescer, e hoje, é a maior cidade do sul do país, e importante centro cultural e de negócios.



O nome da capital, aspirações poéticas à parte, signfica pinhal. Temos Kury, do tupi clássico 'pinhão' e o sufixo de ajuntamento, -tyba, existente em outras composições, como Ubatuba, Karaguatatuba, Itakuakisétuba, Abaetétuba, Aricanduva. Em guarani, kuri é 'pina, araucaria' [12][13]. O nome original, em tupi clássico seria, portanto, 'Kurytyba', ou pinhal. Mas não só de araucárias vive a história da capital. Temos alguns termos interessantes para abordar: atuba, tingüi e tindiqüera.
Atuba, o bairro em que foram feitas as primeiras habitações de paulistas e portugueses nos campos da capital, tem seu nome oriundo do rio que corta a região, e que mais tarde, ao encontrar o rio Iraí, forma o Iguasu. O nome atuba vem das palavras 'yba', fruta, e 'tyba', ajuntamento,  significando ajuntamento de frutas, pomar. 
O nome dos índios que habitavam a região é registrado tingüi. Para esse nome, apresenta-nos Romário Martins a hipótese de ser 'nariz fino'. Seria composto de 'Ti', nariz, e 'kui', fino. Tal hipótese, a princípio não se confirma, posto que os registros para fino dão 'po´i', com 'pui' em tupi moderno e 'syi' em guarani. Mas, devido à fonologia das três palavras, que são ditongos crescentes, assim como o '-güi', e nas três versões a vogal final é '-i' e o trio 'o/u/y' estar presente, podemos conjeturar que haja realmente essa possibilidade[14][15][16][17]. A palavra que se encontra nessa forma seria 'kui', que difere da palavra farinha pela oclusiva glotal: 'kuî' e 'ku´i'. Seria, possivelmente, uma variação dialetal própria da região, ou uma corruptela da palavra tupi 'po´i'. A ordem da evolução da palavra, seria, portanto, da seguinte forma: num primero estágio não haveria nazalisação da palavra 'po´in', pois esta já é nasal. Devido, porém, ao fenônemo de desnazalisação das vogais finais, do tupi para o português, esse som nasal se teria perdido, o que permitiria num segundo estágio que a palavra 'po´i' se torna-se 'mbo´i'. O próximo passo da adaptação da palavra seria a perda da oclusiva glotal, que é outro fenômeno que se observa na passagem do tupi para o português. Teriamos então 'temboi'. Como acontece em nhe´engatu, e em português também, o enfraquecimento da vogal '-o' para '-u'. Dai, o próximo passo seria a perda da bilabial nasal 'mb'. Derivaria então 'Timbui'. De 'timbui' para tingui seria questão de uma troca de consoante, semelhante à proposta por Tupiniquim Ramos para 'Paranavaí'. Para ele, 'Paranavai' seria oriundo de 'Paranãguay', que teria se tornado 'Paranavai'. Como caso isolado seria possível, que 'mb' se tornase 'ng'. Como referência, pode-se considerar a dupla kw/p em línguas indo-eruopéias[18][19][20][21][22]. Teriamos a seguinte linha:
                                        Timpo´i > Timbo´i > Timboi > Timbui > Tingui
Outra possibilidade seria a de que o nome fosse 'farinha de nariz', de 'Tim', nariz e 'ku´i' farinha. O nome do tuxaua, 'Tindiqüera', é, possivelmente, reflexo moderno da contaminação do som de 'ti'. Essa sílaba teria contaminado o -'güi' do tingui e feito-lhe em -'di'. A interpretação dada por Romário Martins é a de que Tindiqüera seria 'buraco de tingui'. Para que isso seja verdadeiro, haveria de, além da contaminação já citada, haver uma mudança vocálica, de 'kûara' para 'kûera'. Uma prova de que pode ter havido a contaminação, é a existência de bairros na grande  Curitiba com o nome 'tingüiqüera', como o antigo nome do municipio de Araucária[23][24].




Curitiba- Limites e rios.




Tuxaua Tindiqüera-Parque Tingüi
1-http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_parana.pdf
Acessado dia 14 de março de 2011 às 12:12
2-http://pt.wikipedia.org/wiki/Curitiba
Acessado dia 14 de março de 2011 às 12:15
3-Idem
4-Fenianos, Eduardo. Portão - Fazendinha - Novo Mundo - Pode entrar
Univercidade, 19995-Idem 
6-Ibidem
7-http://ocatolicismo.wordpress.com/2008/01/18/nossa-senhora-da-luz-padroeira-de-curitiba/
Acessado dia 14 de março de 2011 às 13:00
8-http://tetamauara.blogspot.com/2010/12/paranagua.html 0
Acessado dia 14 de março de 2011 às 13:00
9-Idem ao 7
10-Idem ao 2
11-Idem ao 7
12-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 199813-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. 
Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Línguas, UNA. 2006
14- http://pt.wikipedia.org/wiki/Tinguis
Acessado dia 14 de março de 2011 às 13:30
15-http://www.indios.info/ disponível na sessão Abanheenga do sul.
Acesso dia 14 de março de 2011 às 14:00
16-Stradelli, Ernano. Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo 104, Volume 158, p. 9-768. 1929
17-idem ao 13
18-http://tetamauara.blogspot.com/2010/10/origem-do-nome-guaira-das-seis-bacias.html
Acessado dia 14 de março de 2011 às 15:00
19-Idem
20-Esse é um fenômeno comum tanto em nhe´engatu quanto em português. O enfraquecimento das vogais 'e' e 'o' faz com que, em português, existam anedotas como a de Carla Peréz, que afirmou que escola se escreveria 'iscola'. Em nhe´engatu temos como exemplo, o verbo iku > Ikó Nhi´ingatu > Nhe´engatu.
21-Ramos, RIcardo Tupiniquim. Toponímia Paranaense de origem tupi.
Cadernos do CNLF, Série V, no.08 _A Filologia Ontem e Hoje. 2001
22-Pode-se citar por exemplo, a relação entre o latim e o grego, em que equos = hippos, quinque = penta etc.
23-idem ao 15
24-http://www.cmc.pr.gov.br/aconteceu.php?aco=413
Acessado dia 14 de março de 2011 às 15:00

sábado, 19 de março de 2011

Guaratuba

O municipio de Guaratuba fica na parte sul do litoral paranaense, fazendo fronteira com o estado de Santa Catarina e o municipio de Matinhos. É um municipio de 32.088 habitantes, cuja economia é largamente baseada no turismo[1].
Guaratuba foi fundada oficialmente em 5 de dezembro de 1765, devido a um decreto do Marquês de Pombal, que visava colonizar a parte sul da província de São Paulo, para proteger a costa catarinense das invasões espanholas[2]. Apesar de ter sido elevada à vila, e posteriormente a municipio, foi extinta a municipalidade em 20 de outubro de 1838. Somente em 1947 foi desmembrada novamente do municipio de Paranaguá, tornando-se municipio novamente[3]. Recentemente, quando da época de preparação deste post, o litoral do Paraná, principalmente Antonina e Morretes, sofreram danos com as chuvas. Os acontecimentos se assemelharam aos que ocorreram na serra fluminense no começo do ano de 2011, ou como no vale do Itajaí em Santa Catarina. Guaratuba foi afetada, principalmente,  nas comunidades de Cubatão e Limeira, e encontrou-se isolada por um período. Às vítimas dessa tragédia se dedica esta postagem.

O nome guaratuba conduz a duas análises primárias: para alguns, guaratuba seria o ajuntamento de pássaros, de 'guyrátyba', ou o ajuntamento de guarás 'guarátyba'. Na primeira hipótese, não há impedimentos, posto que de fato, o local poderia ser um pouso de aves migratórias que pela região voassem. Os guarás, porém, são aves de plumagem muito vermelha, e a existência dessas aves é provável motivo para se batizar um local. Ao contrário do que acontece com o nome guarapuava, que não poderia ser oriundo de guarás, posto que essas aves vivem em mangues, distantes 400 quilometros dos Campos Gerais[4], Guaratuba poderia ser muito bem um ajuntamento de guarás. No litoral paranaense existe outro municipio que se refere aos Guarás, localizado no outro extremo do litoral, na fronteira com São Paulo. Guaraqueçaba, que se pode traduzir por 'local de dormida dos guarás', de Guará kera (dormir) (s)aba (local de)[5].


Guará-Eudocimus Ruber
Guaratuba



1-http://pt.wikipedia.org/wiki/Guaratuba#cite_note-Guaratuba_2010-5
Acessado dia 19 de março de 2011 às 14:00
2-Idem
3-http://www.guaratuba.com/historia.asp
Acessado dia 19 de março de 2011 às 14:20
4-http://tetamauara.blogspot.com/2010/11/guarapuava.html
Acessado dia 19 de março de 2011 às 15:00
5-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998

terça-feira, 1 de março de 2011

Rio Ivaí


O estado do Paraná cresceu em função dos rios que correm em seu território. Além da capital, que toma a forma de um coração, em seus rios, há o vale do Iguaçu, do Paranapanema, do próprio Paraná, do Pequiri e do Ivaí. Destes, apenas o Pequiri e o Ivaí nascem, correm e desagüam dentro do Estado, e, dentre estes dois, é o mais longo. Por esse motivo, analisaremos seu nome.
A nascente do rio Ivaí fica no município de Prudentópolis, após a união dos rios São João e dos Patos, nas coordenadas   25° 1'13.50"S 50°58'25.88"W. Desse ponto o rio segue em direção a noroeste, por 685 quilometros, até sua foz, no rio Paraná, na divisa entre Icaraíma, que fica ao sul, e Querência do norte, ao norte. É um dos rios mais importantes do estado do Paraná também pelo seu aspecto histórico: várias colonias espanholas e missões surgiram na região, que era da província do guairá[1][2]. A principal dessas reduções era a Villa del Spiritu Sanctu, que foi erigida na foz do rio Corumbataí, e destruida pela expedição bandeirante liderada por Raposo Tavares[3]. Hoje, distando aproximadamente 4 quilometros da foz do corumbataí, está localizado o municipio de Fênix[4].
O nome Ivaí pode ser interpretado de várias formas. A mais evidente, mas nem por isso válida, atribui o nome ao guarani '´Yvai', ou rio feio, de ´'y´ rio, água, e ´vai´, feio. Não se aplica essa informação, porque em guarani, temos 'Yva' para fruta. Tal dado nos leva a crer que ao invés de ser um rio feio, como se sugere a primeira análise, mas sim o rio da fruta.[5] Tal análise também tem ecos no tupi. Em tupi clássico, temos 'Ybá' para fruta, e em nhe´engatu, temos 'Yuá'[6][7].
O nome do rio pode ser de origem guarani, como se disse acima, mas também pode ser de origem tupi. Como demonstrado, a palavra para fruta em tupi é próxima à palavra guarani, e essa aproximação pode ter sido maior. Registra-se, em tupi austral, palavras que em moderno seriam faladas com '-u', são pronunciadas com '-v', assim como em guarani[8][9][10][11].
Tupi Clássico  Tupi Austral               Tupi Moderno           Guarani     Português
Aoba              Aova                           Ropa                        Ao            Roupa
Angaîbar       Angaivara                 Angai                      Anga*     Magro
Tekobé          Ikové                          Sekûé                      Ikove       Viver


As palavras listadas são exemplos dessa aproximação do tupi austral ao guarani. Vendo isso, não se torna impossível, portanto, que o nome Ivaí seja originado do Tupi Austral, ou que se tenha confundido com esse, pela proximidade da pronúncia. Como outros exemplos dessa proximidade, temos a cidade de Itaverava, em Minas Gerais, que é cognato da cidade de Itaberaba, na Bahia. Ora, Minas Gerais era território bandeirante e nota-se esse fenômeno[12][13].
O nome Ivaí, portanto, pode ser originário do guarani, pela proximidade territorial, ou pode ser bandeirante, pelos motivos apresentados acima. Assim como Paranaguá, é topônimo que se encontra na fronteira da zona de influência de dois idiomas, e por isso não se pode afirmar com certeza.

*A palavra Anga em guarani moderno representa a idéia de pobreza, tristeza, e portanto é semanticamente próxima à palavra angaîbara, que representa magro. Outras palavras com esse radical são Angaipa, pecado, Angaipava, pecador. A palavra Angai, em si, é advérbio, significa lastimosamente, tristemente. A palavra para magro é Piru.

Rio Ivaí Ao longo. As linhas brancas são rios.

Acessado dia 01 de março de 2011 às 16:00
2-Idem
3-Ibidem
Acessado dia 01 de março de 2011 às 16:20
5-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Lenguas, Universidad Nacional de Asunción. 1997
6-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
7-Magalhães, Couto de. O selvagem.
Rio de Janeiro. Typographia da reforma. 1876
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:00
9-Stradelli, Ernano. Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua. 
Rio de Janeiro. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo 104, Volume 158, p. 9-768 1929
10-Idem a 5
11-Idem a 6
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:30
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:40

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ûará i Karaung


Lenda do Uará e do Karaü

Esta lenda que trata do encontro entre o íbis (uará) e o Karaü. Trata-se da ocasião em que o íbis resolve roubar a camisa, ou plumagem, do karaü, por inveja.
Foi anotada por Hartt, que, em 1872, a publicou como apêndice de um artigo
sobre gramática histórica da língua geral. A tradução do conto foi feita do original por nós, com a tradução do autor como referência. 

Uará i Karaung 

Rimaeuara karaung unhe´eng ramé míra iaé, 
ikamixá ipurangarinté ipirang resé. Uará kamixá ipixún, ayú. 
Uará uma´ã karaung resé, uiumutar karaung kamixá resé. 
Unhe´eng: 'xasu xaenganá¹ kuaé karaung!" Uará usik karaung ruaké. 
Kuaé iaé unheeng ixupé: "epuru raen ne kamixá ixéu!" 
Karaung upuranú Uará supé: "Ma´aresé kuiti repuru putari sekamixá?" 
Uará usuaixara: "Xasu arama xaiumusarái Maraiúpe², xapuraseiputar." 
Karaung unheen :"até³ mairamé?" 
Uará usuaixára : "Até musapyr ara riré." 
Karaung uiuog ikamixá. Umeeng uará supé. 
"Kusekói, uará! Tenhe sengana, serarung iné!" 
Uará usu án, inti uán uiuir, usu reté uan karaung suí. 
Inti uan uiukuau karaung kyty. Karaung usarung uará. Inti uiuakuau. 
Karaung yaxiú usapukái, unheeng: "Uará! Eruri sekamixá ixeu!" 
Kuyr usapukái tenhe uará resé.
--
1-Do português enganar;
2-Ilha de Marajó;
3-Preposição 'até', do português.


Guará e Bacurau*

No tempo em  que o bacurau falava como as gentes, e  sua camisa era muito bonita, 
por causa de seu vermelho. A camisa do Guará era preta, feia.
O guará vê o bacurau, quer sua camisa. Diz: "vou enganar esse bacurau!" 
Se achegou ao lado do bacurau. 
Este assim diz a ele: "me empresta tua camisa!"
O Bacurau perguntou para o Guará: "Por causa de que coisa você quer 
agora pegar minha camisa emprestada?" 
O Guará responde:" Para eu ir me divertir em Marajó, quero dançar."
Diz o Bacurau: " até quando?"
O guará responde: "Até depois de três dias." 
O bacurau tira sua camisa. Deu para o Guará.
"Tá aí Guará! Não me engana, eu te espero!" 
O Guará foi, nunca voltou, foi de fato para longe do bacurau. 
Nunca mais apareceu para o Bacurau. Esperou o bacurau pelo Guará. Não apareceu. 
O bacurau chora, grita, fala :" Guará! Traz minha camisa pra mim!"
Agora sempre grita por causa do Guará.

*O bacurau em questão é um pássaro qualquer da família dos caprimulgidae. E o Guará é o Eudocimus Ruber.
http://farm4.static.flickr.com/3040/2885614695_03d6daf971.jpg - Bacurau
Eudocimus Ruber

--
Bibliografia
1-Hartt. C.F., Notes on the Lingoa Geral or Modern Tupi of the Amazonas.
Transactions of the American Philological Association, Vol. 3, pp. 58-76. 1872
2-http://en.wikipedia.org/wiki/Nighthawk
Acessado dia 9 de fevereiro de 2011 às 16:00
3-http://farm4.static.flickr.com/3040/2885614695_03d6daf971.jpg
Acessado dia 9 de fevereiro de 2011 às 16:15

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

História

O tupi moderno, ou nhe´engatu, ou ainda nhi´ingatu, é um idioma do tronco linguístico tupi, da família tupi-guarani, do grupo III, parente próxima do tupi austral, tupi clássico, Kokáma, Kokámiya e Omágua.[1] Origina-se do tupi clássico, através das ações de exploradores, que, grosso modo, vinham solteiros para o Brasil e se amancebavam com as índias, na chama política de cunhadismo. [2] Os filhos eram então educados na língua das mães, e, essa união gerou os idiomas gerais. [3] Os dois idiomas gerais surgidos, através desse processo foram o idioma tupi austral, ou paulista e o tupi boreal, amazônico ou nhe´engatu. A língua do sul era a língua dos bandeirantes. A do norte, dos jesuitas.[4]   E devido a essas duas forças, os idiomas e sua influência se passaram a plagas em que tupis não haviam batizado montanhas, nem florestas. Os bandeirantes, cujas explorações foram até o Rio Grande do Sul e à amazônia, aumentaram o território da língua enquanto expandiam o território da coroa portuguesa, unida à espanhola à época.[5]. Os jesuitas, por seu vez, usaram do idioma geral como língua de educação para os índios e recém convertidos.[6] Com  a expulsão dos jesuítas e a proibição do uso do tupi, austral e boreal, pelo Marquês de Pombal, em 1759, o idioma mingou, até extinguir-se no sul da colonia, e confinar-se à cabeça do cachorro, no amazonas, no norte do país. E é na cabeça do Cachorro, no municipio de São Gabriel da cachoeira, que o idioma mantém sua maior força, com cerca de 3000 falantes.[7] É também ali o único municipio do país a promulgar  idiomas indígenas e caboclos como língua oficial.[8] 
Nos links que se seguem, discutiremos esses temas mais profunda, técnica e cientificamente. (Páginas em construção)


Diacronia
Relações com guarani
Lusitanismos
Curiosidades 


--
Bibliografia
1-Rodrigues, Aryon Dall’Igna. 1985. Relações internas na família lingüística Tupí-
Guaraní. Revista de Antropologia, vols. 27/28, pp. 33-53
2-Navarro, Eduardo Almeida de, Método Moderno de Tupi Antigo:a língua do Brasil dos primeiros séculos
3-idem
4-ibidem
5-Ibidem
6-Freire, José Bessa, da ‘fala boa’ ao português na amazônia brasileira. Revista Ameríndia n°8, 1983, 
disponível em http://www.vjf.cnrs.fr/celia/FichExt/Am/A_08_03.htm
7-http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=yrl
Acessado dia 02 de fevereiro de 2011 às 18:05
8-Lei municipal 145 de 11 de dezembro de 2002 do Municipio de São Gabriel da Cachoeira;

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fonologia

A fonologia do Tupi moderno, pode, à primeira vista, parecer uma simplificação grosseira da fonologia do tupi clássico. De fato, houve uma redução de vogais como 'e' e 'o' para 'i' e 'u', além do desaparecimento de consoantes intervocálicas, como d, e transformação de 's' em x. Analisar tal fenômeno como deturpação ou grosseria, seria, no mínimo, ser preconceituoso. Esse fenômeno existe também em português do Brasil: analise-se a frase emblemática 'leite quente dá dor no dente'. Falada com a pronúncia recifana, teriamos 'leiti quenti dá doch nu denTi'. A pronuncia carioca seria :'leitchi queinti dá doch nu deinti' e na fala paranaense : 'leitE quEntE dá doR no dEntE.'* Esse fenômeno ocorreu também, entre outros, na migração do grego ateniense, para o moderno:.
                      "All the sounds in Greek are now exactky the same, reduced, that is to say, to a like thin and slender character, and
                              subjected to the authority of a single letter, the iota; so that all one can hear is a feeble piping like that of sparrows,
                              or an unpleasant hissing like that of snakes."
                                                            (ASCHAM, ROGER, citado em MOREWOOD 2001)
Nas páginas específicas, abaixo listadas, há especificação do que foi tratado aqui, principalmente no que envolve as consoantes e as vogais.


--
*aqui cabe explicar a notação usada, já que por problemas técnicos não me foi possível utilizar a notação da IPA. 'T' no dialeto de recife e do paraná, é o 't' do IPA. No dialeto carioca, é o 'tz' do IPA. O r, no dialeto recifano e carioca, é o 'X' do IPA, enquanto o 'R' é o tap retroflexo. Por fim, 'E' é apenas o 'e' do IPA e o 'i' é o 'i' do IPA

1-Morewood, James. Oxford Grammar of Classical Greek.
Oxford, Oxford University Press, 2001
2-http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/IPA_chart_(C)2005.pdf
Acessado dia 02 de fevereiro de 2011 às 16:20

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Pindorama nhe´engarisaua

O hino Nacional Brasileiro, cuja letra foi composta em 1909 por Osório Duque Estrada e melodia de Francisco Manoel da Silva, composta em 1822, é a canção mais importante da nação. Representa, juntamente com a bandeira nacional, as armas da república, o selo nacional os 4 símbolos nacionais.[1][2]
A letra só foi acrescida à melodia após um concurso promovido pelo governo republicano, recém instalado. O concurso, apesar de patrocinado pela União, não rendeu os frutos que se esperavam, e o hino que venceu o concurso ficou como hino da república, e a letra do atual hino foi escolhida pelo presidente da Republica como hino oficial.[3]
A tradução foi feita pelo eminente professor Faris Antonio Michaelle, que trouxe grandes avanços à Ponta Grossa.[4]    Abaixo algumas considerações sobre a letra:

Para se adequar aos padrões que se usam neste blog, adaptamos a grafia e algumas palavras à forma mais comumente utilizada por aqui. As alterações mais significantes, assim como formas gramaticais nem tão usuais.

Sembuia Ypiranga sui, pitúua,
Usenu kirimáua sasemusu
Kuarasy pisirungára, seniua,
Retama yuakaupé, berabusú.

Sepi kua iauesáua sui ramé,
Itayiuá irumo, irapurepy,
Mumutara sáua, ne pyá upé,
I manusaua uiku iané sepy.

Iasaisu¹ ndê,
Oh muitéua
Auê, Auê !

Pindorama keri pi upé, kuarasyáua,
Saisú í saarússáua sui uuié,
Maresé, ne yuakaupé, puranga.
Usenipuka Kurusa iepé!

Turusú reiku, ´ara rupí, teen,
Ndê puranga, i santáua, ti sikyié
Ndê cury kuá mbaéusú umeen.

Yby muitéua,
Ndê remunú,
Reiku Pindorama,
Ndê, ixaissú !

Mira kuá yuy sui sy katú,
Ndê, ixaissú, Pindorama!

Ienutyua katú pupé reicu²,
Memê, paráteapú, kuá ´ara upé,
Ndê receni, putira America sui.
I Kuarasy umuceni iané!

Inti uriku purangáua pyré
Ndê nhu surisára ume´en putira pyré,
Sikué pyré uriku iané ka´auasú.
Iané sikué², ìndê pyá upé, saisú pyré.

Iasaisú ndê,
Oh muitéua
Auê, Auê !

Pindorama, ndê pana³ iacy-tatá-uára
Tuiku rangáua kuá kaisú retê,
I kuá-pana iakyra-tauá tunhee
Kuiri Katuana, ieorobiára kuesê.

Supí takapi repuama remé
Ne mira apgáua umaramunhã,
Iamuitê ndê, inti iasikyé.

Yby muitéua,
Ndê remunú,
Reiku Pindorama,
Ndê, iaisú !

Mira kuá yuy sui sy katú,
Ndê, ixaissú,
Pindorama![5]

Vocabulário-
1-     Iasaisu-forma próxima à do tupi clássico, mas que reflete uma característica do guarani, que é o som de ‘i’ ao invés do ‘u’. Eg. Em guarani ‘che ahayhu’, enquanto em tupi clássico seria ‘sausub’. A forma encontrada em alguns texto nos dá xaixu, talvez por influência da mutação de s em x após um ‘i’.
2-     Aqui temos o verbo Iku com a mesma função do verbo ser do português:  formar a cópula. Não é tão comum em textos e lendas.
3-     Pana aqui é uma adaptação do português pano, e quer dizer bandeira.

  
Bibliografia

1-Capítulo III, Artigo 13, §1º da Constituição Federal de 1988
2-Lei número 5.700 de primeiro de setembro de 1971.
Disponível em : http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5700.htm , acessado dia 20 de janeiro de 2011 às 14:18
Acessado dia 20 de janeiro de 2011 às 14:19
Acessado dia 20 de janeiro de 2011 às 14:19 (Agradecimentos ao Emerson Silveira, por me repassar essa informação)
Acessado dia 20 de janeiro de 2011 às 14:23