quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ûará i Karaung


Lenda do Uará e do Karaü

Esta lenda que trata do encontro entre o íbis (uará) e o Karaü. Trata-se da ocasião em que o íbis resolve roubar a camisa, ou plumagem, do karaü, por inveja.
Foi anotada por Hartt, que, em 1872, a publicou como apêndice de um artigo
sobre gramática histórica da língua geral. A tradução do conto foi feita do original por nós, com a tradução do autor como referência. 

Uará i Karaung 

Rimaeuara karaung unhe´eng ramé míra iaé, 
ikamixá ipurangarinté ipirang resé. Uará kamixá ipixún, ayú. 
Uará uma´ã karaung resé, uiumutar karaung kamixá resé. 
Unhe´eng: 'xasu xaenganá¹ kuaé karaung!" Uará usik karaung ruaké. 
Kuaé iaé unheeng ixupé: "epuru raen ne kamixá ixéu!" 
Karaung upuranú Uará supé: "Ma´aresé kuiti repuru putari sekamixá?" 
Uará usuaixara: "Xasu arama xaiumusarái Maraiúpe², xapuraseiputar." 
Karaung unheen :"até³ mairamé?" 
Uará usuaixára : "Até musapyr ara riré." 
Karaung uiuog ikamixá. Umeeng uará supé. 
"Kusekói, uará! Tenhe sengana, serarung iné!" 
Uará usu án, inti uán uiuir, usu reté uan karaung suí. 
Inti uan uiukuau karaung kyty. Karaung usarung uará. Inti uiuakuau. 
Karaung yaxiú usapukái, unheeng: "Uará! Eruri sekamixá ixeu!" 
Kuyr usapukái tenhe uará resé.
--
1-Do português enganar;
2-Ilha de Marajó;
3-Preposição 'até', do português.


Guará e Bacurau*

No tempo em  que o bacurau falava como as gentes, e  sua camisa era muito bonita, 
por causa de seu vermelho. A camisa do Guará era preta, feia.
O guará vê o bacurau, quer sua camisa. Diz: "vou enganar esse bacurau!" 
Se achegou ao lado do bacurau. 
Este assim diz a ele: "me empresta tua camisa!"
O Bacurau perguntou para o Guará: "Por causa de que coisa você quer 
agora pegar minha camisa emprestada?" 
O Guará responde:" Para eu ir me divertir em Marajó, quero dançar."
Diz o Bacurau: " até quando?"
O guará responde: "Até depois de três dias." 
O bacurau tira sua camisa. Deu para o Guará.
"Tá aí Guará! Não me engana, eu te espero!" 
O Guará foi, nunca voltou, foi de fato para longe do bacurau. 
Nunca mais apareceu para o Bacurau. Esperou o bacurau pelo Guará. Não apareceu. 
O bacurau chora, grita, fala :" Guará! Traz minha camisa pra mim!"
Agora sempre grita por causa do Guará.

*O bacurau em questão é um pássaro qualquer da família dos caprimulgidae. E o Guará é o Eudocimus Ruber.
http://farm4.static.flickr.com/3040/2885614695_03d6daf971.jpg - Bacurau
Eudocimus Ruber

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Bibliografia
1-Hartt. C.F., Notes on the Lingoa Geral or Modern Tupi of the Amazonas.
Transactions of the American Philological Association, Vol. 3, pp. 58-76. 1872
2-http://en.wikipedia.org/wiki/Nighthawk
Acessado dia 9 de fevereiro de 2011 às 16:00
3-http://farm4.static.flickr.com/3040/2885614695_03d6daf971.jpg
Acessado dia 9 de fevereiro de 2011 às 16:15

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

História

O tupi moderno, ou nhe´engatu, ou ainda nhi´ingatu, é um idioma do tronco linguístico tupi, da família tupi-guarani, do grupo III, parente próxima do tupi austral, tupi clássico, Kokáma, Kokámiya e Omágua.[1] Origina-se do tupi clássico, através das ações de exploradores, que, grosso modo, vinham solteiros para o Brasil e se amancebavam com as índias, na chama política de cunhadismo. [2] Os filhos eram então educados na língua das mães, e, essa união gerou os idiomas gerais. [3] Os dois idiomas gerais surgidos, através desse processo foram o idioma tupi austral, ou paulista e o tupi boreal, amazônico ou nhe´engatu. A língua do sul era a língua dos bandeirantes. A do norte, dos jesuitas.[4]   E devido a essas duas forças, os idiomas e sua influência se passaram a plagas em que tupis não haviam batizado montanhas, nem florestas. Os bandeirantes, cujas explorações foram até o Rio Grande do Sul e à amazônia, aumentaram o território da língua enquanto expandiam o território da coroa portuguesa, unida à espanhola à época.[5]. Os jesuitas, por seu vez, usaram do idioma geral como língua de educação para os índios e recém convertidos.[6] Com  a expulsão dos jesuítas e a proibição do uso do tupi, austral e boreal, pelo Marquês de Pombal, em 1759, o idioma mingou, até extinguir-se no sul da colonia, e confinar-se à cabeça do cachorro, no amazonas, no norte do país. E é na cabeça do Cachorro, no municipio de São Gabriel da cachoeira, que o idioma mantém sua maior força, com cerca de 3000 falantes.[7] É também ali o único municipio do país a promulgar  idiomas indígenas e caboclos como língua oficial.[8] 
Nos links que se seguem, discutiremos esses temas mais profunda, técnica e cientificamente. (Páginas em construção)


Diacronia
Relações com guarani
Lusitanismos
Curiosidades 


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Bibliografia
1-Rodrigues, Aryon Dall’Igna. 1985. Relações internas na família lingüística Tupí-
Guaraní. Revista de Antropologia, vols. 27/28, pp. 33-53
2-Navarro, Eduardo Almeida de, Método Moderno de Tupi Antigo:a língua do Brasil dos primeiros séculos
3-idem
4-ibidem
5-Ibidem
6-Freire, José Bessa, da ‘fala boa’ ao português na amazônia brasileira. Revista Ameríndia n°8, 1983, 
disponível em http://www.vjf.cnrs.fr/celia/FichExt/Am/A_08_03.htm
7-http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=yrl
Acessado dia 02 de fevereiro de 2011 às 18:05
8-Lei municipal 145 de 11 de dezembro de 2002 do Municipio de São Gabriel da Cachoeira;