sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mykura i apgáua

Esta lenda foi colhida por Couto Magalhães, e publicada em seu livro, 'O selvagem', como exemplo de uso do tupi moderno.[1] É parte de uma série de lendas sobre raposas, as quais, como nas fábulas gregas e latinas, são exemplo de que quem é 'esperto' nem sempre termina bem. Nesse papel, nas lendas colhidas por Magalhães, revezam-se os macacos, as onças e as raposas. 
Nesta fábula, a raposa brinca com a piedade de um homem, que, na primeira vez enterra a raposa, na segunda vez a cobre com folhas, na terceira vez, a tira do caminho e na quarta vez a amaldiçoa e a joga nos espinhos.
A fábula apresenta estrutura narrativa tipicamente oral, com alternâncias constantes no tempo verbal, comum nas sögur islandesas. Com efeito, um aspecto que dificulta a tradução de textos com tal caracteristica é a irregularidade, aos olhos da língua escrita erudita, na formação do tempo verbal. Torna-se um desafio concordar os tempos, de modo a fazer clara a idéia do texto. Observe-se o texto da saga dos volsungos, no momento em que o herói Sirgudr mata a serpente Fáfnir: " Ek er Ormrinn skreið yfir grófina, þá legger Sigurdr sverdinnu..."[2] A tradução literal dos tempos verbais indicaria : "E que a Serpente rastejou sobre o rego, então  golpeia Sigurdr com a espada..."[3]. Assim como em nórdico antigo, também há tal inconstância nos textos em tupi moderno. Na fábula apresentada, temos "Umutyrica a´e pé suí, upupeká ka´a irumo, usu ana.", que, traduzidos os tempos verbais, seria: "Tira-a do caminho, cobre-a com folhas, foi". Em nhe´engatu, porém, o presente e o pretérito se confundem. Alguém poderia utilizar deste argumento para afirmar que o texto todo está no passado. Devido à existência, no entanto, da partícula -ana, no fim do verbo usu, indica que essa ação encerra a série de ações, e esta, principalmente, está no pretérito. Isto anularia a necessidade de se por os outros verbos no pretérito, dado o sentido de pretérito que, além do verbo, o contexto, uma história se contando, e o gestual do narrador. Utilizando destes pressupostos, traduzimos a fábula como se segue, utilizando dos tempos verbais em seqüência: presente e após futuro, onde assim se indica no texto original. Também optamos por utilizar pessoas definidas no texto, posto que no texto não há indicação de que seja mais de uma raposa. Diz-se apenas 'Mykura uiana', enquanto está claro que é um único homem que encontra a raposa. Por ser um texto de expressiva oralidade, preferimos por utilizar um português padrão mais coloquial para a tradução.


Mykura i apgáua


Mykura usu uieno maarupi apgáua usasau arama uaa, uiumanu. Apgáua uuri, unhee:

--Mikura, taité!

Umunhã quára, uiutyma a´e, usuana. Mykura uiana ka´a rupi, usu uiene tenoné apepe¹, uiumanu ana.
Apgáua usyka ramé, unhee:
--Mykura ambyra iuyre!
Umutyrica a´e pé suí, upupeká ka´a irumo, usu ana. Mykura uiana iuyre iaytyua rupi, usu uienõ tenoné pépe.
Apgáua usyka unhee:
--Auata uiucáiucá² kuaa mykura itá?
Umutyrica a´e pe³ suí, usu ana. Mykura uiana iuyre iaytyua rupi, usu uienõ tenoné pépe, uiumanõ ãna.
Apgáua usyka ramé, unhee:
--Tatá usapí upai rupi!
Upysyka suaia rakapira rupi uiapyana mykura iaytyua resé. Aramé mykura unhee:
--Inti katú iamumaraári auá supé umunhã katú uaá iané arãma. Usu ãna
¹-Apócope de Tape;
²-Literalmente, matamatando, forma de gerúndio a partir de reduplicação;
³-Apócope de Tape



A raposa e o homem

Uma raposa vem se deitar pelo caminho que um homem tem de atravessar, e se finge de morta.
Vem o homem e diz:
--Coitada da raposa!

E faz um buraco, a enterra, e se foi
A raposa corre pelo mato, vai se deitar no meio do caminho, e se fingiu de morta.
Quando o homem chegou, disse:
--Outra raposa morta!

E a retira do caminho, a cobre com folhas e se foi.
A raposa corre pelo cerrado, vai se deitar no meio do caminho.
Quando o homem chegou, disse:
--Quem está matando essas raposas?
Retirou-a do caminho e se foi.
A raposa corre pelo cerrado, vai se deitar no meio do caminho, e se fingiu de morta.
Quando o homem chegou, disse:
--Queime tudo fogo!
Pega pela pela ponta da cauda da raposa e a joga no cerrado.
Depois, a raposa diz:
--Não é bom cansarmos a quem nos faz bem.
E se foi.

1-Magalhães, Couto. O Selvagem
Rio de Janeiro, Typographia da Reforma, 1876
2-http://www.septentrionalia.net/etexts/volsunga.pdf
Acessado dia 20 de dezembro de 2010 às 11:16

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Paranaguá

A cidade de Paranaguá, existente como povoação desde, pelo menos, 1549, é o mais antigo município do Estado do Paraná[1][2]. Colonizado por índios carijós, negros, portugueses e açorianos, o municipio de Paranaguá foi por muitos anos o municipio mais importante do estado, tendo perdido o posto de capital da comarca para Curitiba em 1812.[3].
Contando com 144.797 habitantes e 826,652 km² de área, é o décimo município do Paraná em população. Por abrigar em seu território o segundo porto do país em operações, a cidade de Paranaguá tem no porto sua principal atividade econômica, o qual  embarcou 22.399.244 toneladas de produtos e recebeu 10.259.357 toneladas de produtos no acumulado do ano de 2010 [4]. 
O nome Paranaguá será analisado por nós através de duas hipóteses: de que provenha do tupi antigo, ou de que provenha do guarani. 
Para que esse nome seja proveniente do tupi clássico, precisamos observar atentamente as zonas de confluência dos povos tupis e dos povos guaranis. De acordo com Gândavo, os índios tupis habitavam a costa brasileira, do Pará ao paralelo 27 [5]. Ora, o paralelo 27 passa pouco abaixo do municipio de Itajaí, o que, apesar de ser Paranaguá território dos carijós, legitima uma possível origem tupi para o nome do municipio. Olhemos então a questão lingüística. Em tupi clássico, o termo para baia, enseada, seria 'kuá'. Levando em consideração  que em tupi clássico as vogais nasais influenciam certas consoantes, dentre elas, 'k'. Juntando Paranã a Kuá, portanto, obtemos Paranãnguá[6]. 
Em guarani moderno, por outro lado, a particula 'gua' indica procedência, cognato ao tupi moderno 'ûara', e baia é 'yjere', de 'y' água e 'jere' entorno[7]. Esse vocábulo pode ter surgido para acabar com a ambiguidade com o vocábulo para buraco, 'kua', pois, seguindo a tendência dos idiomas tupis mais ao sul, tanto o guarani quanto o tupi de São Vicente, eliminam-se  vogal e consoante finais da palavra. E.g.'Kuara' -> 'Kuá' [8][9]
Ambas as hipóteses são válidas, pelos argumentos apresentados acima, posto que a área de paranaguá era área de transição de culturas: a tupi do litoral, com a dos guaranis do interior. Por isso, o nome pode ser oriundo de qualquer um dos dois idiomas.
Paranaguá- Retirado de poraicompaola.blogspot.com
1-http://pt.wikipedia.org/wiki/Paranagu%C3%A1
Acessado dia 9 de dezembro de 2010 às 17:30.
2-Idem.
Acessado dia 9 de dezembro de 2010 às 17:35
4-http://www.appa.pr.gov.br/arquivos/File/2010novembro.pdf
Acessado dia 9 de dezembro às 15:30
5-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
6-Idem
7-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. 
Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Línguas, UNA. 2006
8-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
9-As palavras que em tupi clássico se escreveriam com uma sílaba retrátil, em guarani e em tupi de São Vicente não as tinham. Pode-se citar como exemplo a palavra 'Kûara', buraco em tupi clássico, em guarani é 'kua'. O mesmo se pode dizer do par de palavras potyra/potymembyra/membyguara/gua, respectivamente flor, filho e uma forma de se dizer habitante, oriunda de 'u', comer, literalmente, aquele que come em. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guarapuava

Guarapuava é uma cidade dos campos gerais do Paraná, no centro do Estado, com aproximadamente 166,195 habitantes e uma área de 3 125,852 km² [1]. Fundada em 1810, o municipio de Guarapuava é o quinto maior do estado do Paraná e o maior produtor de cevada do país [2]. 
O nome do município é motivo de acirrada controvérsia entre os estudiosos do assunto. Aqui propõe-se a análise de três possíveis toponímias apresentadas: guráapyaba, sugerida por Caldas Tibiriçá; guarápuaba ou guyrápuaba, sugeridos por Teodoro Sampaio. 
A primeira proposta, de Tibiriçá, sugere que o nome do município viria do tupi ´gurá´, carvão, e apyaba, local de se queimar, carvoaria. Com esta teoria há, parece-me, dois problemas. Apyaba significaria lugar de queimar, oriúndo do verbo apy, queimar, e (s)aba, sufixo circunstancial, neste caso, de local. Mas apyaba poderia ser também homem macho, viril, humano macho[3][4][5]. Guráapyaba, portanto, poderia ser homem de carvão, aceitando-se o significado de gurá como tal. Aqui então surge o segundo problema: gurá não consta em nenhum dos dicionários consultados, além de, quando se encontra sobre o assunto em uma busca 'google', se encontra a palavra 'guyrá' mal grafada.  Em guarani, por exemplo, carvão se diria 'tatapyi', que é próximo ao nome nhe´engatu 'tatápuinha'.[6][7]. A inexistência de referências a 'gurá' como carvão não invalida esta hipótese, mas impede que se confirme.
A hipótese de Sampaio, de que o nome viria de guarápuaba ou de guyrápuaba seja talvez mais aceitável. Guarápuaba vem de 'Guará' (Eudocimus ruber), ave da família das Threskiornithidae, conhecida por sua plumagem vermelha, e de 'puaba', som, ruído[8]. Essa hipótese não é aceitável, posto que as guarás vivem no litoral do paraná, que dista aproximadamente 400km de guarapuava, invalidando tal proposta. Vejamos a possibilidade de 'guyrápuaba'.
Guyrá em tupi clássico, assim como em guarani moderno é pássaro. Portanto, 'guyrápuaba' pode ser ' local de barulho dos passáros, local de pássaro fazer barulho.' 
Eudocimus ruber






Municipio de Guarapuava




1-http://pt.wikipedia.org/wiki/Guarapuava
Acessado dia 25 de novembro de 2010 às 20:30
2-Idem
3-Tibiriçá, Luiz Caldas. Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi.
São Paulo. Traço Editora. 1985
4-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi AntigoPetrópolis, Vozes, 1998
5-Idem
6-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Línguas, UNA. 2006
7-http://www.indios.info/ seção nheengatu
Acessado dia 25 de novembro de 2010 às 20:45
Acessado dia 25 de novembro de 2010 às 21:00




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Nhundiaquara

No Estado do Paraná correm 11 bacias hidrográficas, das quais 9 correm em direção ao rio Paraná e duas correm diretamente para o atlântico: Ribeira e Litorânea. A soma de suas áreas é 15.019 km²[1], abrangendo um total de 29 municípios. Dentre as duas, a bacia de colonização mais antiga, no estado do Paraná é bacia litorânea, cuja colonização começa com a chegada dos portugueses à região em 1545 [2]. Nessa região habitavam índios carijós, e índios tupis. Desses dois grupos surgiu a maior parte dos nomes de rios e montanhas da região, bem como parte do código genético dos moradores do litoral e partes da cultura regional, como as rodas de fandango. As principais cidades da região são Paranaguá,  Antonina, Guaratuba, Matinhos e Morretes. Neste último corre o rio Nhundiaquara, que se torna ponto turístico no centro de Morretes, além de ser roteiro de eco-turismo.
O nome Nhundiaquara, para Caldas Tibiriçá(1985) e Sampaio (1901), é oriundo do nome Îundiákûara[3][4], que, segundo ele, seria toca do bagre. Tal hipótese se baseia em um fenômeno comum em línguas tupis: a nasalização da semi-vogal 'i' em inicio de palavra, geralmente por contaminação de uma nasal posterior. Pode-se, por exemplo, citar a expressão  ñandejara, Nosso Senhor. É uma expressão em guarani moderno, em que essa dicotomia é produtiva: diz-se ñande ja- ou ñande ña-, dependendo apenas da nasalidade do verbo. Outro ponto que pode justificar essa hipótese é a dupla forma encontrada em guarani moderno para a palavra bagre: Jurundi-´a ou Ñurundi´a [5]
Esse fenômeno também se nota em tupi antigo, em palavras como andub, sentir. Por ser verbo transitivo direto, necessita de um pronome enclítico -i-. Ao se unir o pronome ao verbo, o -i- torna-se -nh-, resultando em a-nh-andub, ere-nh-andub etc[6].
O bagre em questão é, possivelmente, o Rhamdia Quelen, conhecido vulgarmente como jundiá. É uma espécie de bagre comum nos rios do Brasil, em todas as bacias hidrográficas.[7]

Nhundiaquara em Morretes-retirado de  ochogeek.blogspot.com
1-Mapa de Bacias do Paraná. SUDERHSA, 1996
2-http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Paran%C3%A1 
Acessado dia 2 de novembro de 2010 às 16:17
3-Tibiriçá, Luiz Caldas. Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi.
São Paulo. Traço Editora. 1985
4-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
5-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
6-Idem 4.
7-http://www.cepen.com.br/pesc_jundia.htm
Acessado dia 4 de novembro de 2010 às 17:00
8-http://ochogeek.blogspot.com/2010/06/morretes-pr.html
Acessado dia 4 de novembro de 2010 às 17:10



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Barigui

A cidade de Curitiba foi construída sobre 6 grandes bacias hidrográficas, todas afluentes do rio Iguaçu. Dentre elas, pode-se destacar a bacia do rio Barigüi, cujo principal rio, homônimo, começa e termina dentro do território da capital paranaense. 
A colonização da bacia do rio Barigüi é recente, se comparado à ocupação de outras áreas da cidade.[1]  Boa parte da bacia começou a ser ocupada efetivamente entre 1985 e 1995, sendo as áreas mais antigas datando de 1938.[2][3] Não se deve, porém, esquecer que havia um grande número de fazendas  e casas religiosas na região. Como exemplo, pode-se citar o Colégio Marista Paranaense, que foi fundado em 1905 no bairro do seminário, nunca mudando-se de local. A colonização urbana propriamente dita começou entre 1938 e 1966. [4]
Por ser,  a área da bacia, pantanosa, rodeada de fazendas, muitos insetos e animais ainda viviam ali. Alguns ainda existem ali, como as capivaras, que foram re-introduzidas ao seu habitat natural, quando da criação do parque Barigüi. Outros rarearam, mas ainda podem ser encontrados, como mosquitos da família Ceratopogonidae, gênero Culicoides.[5] É de uma espécie desses mosquitos, os pólvora (Culicoides Paraensis), é que advém o nome do rio barigüi.[6] Barigüi em tupi, grosso modo, significa mosquito, mosquito-pólvora. Em guarani paraguaio moderno, a palavra para mosquito é mbarigui[7] e, em tupi do litoral, segundo relata José de Anchieta, seria marigui[8]. 


1-Carta de ocupação Urbana. 
Curitiba. IPPUC 1997
2-Idem
3-Idem
4-Idem
5-http://pt.wikipedia.org/wiki/Maruim
Acessado dia 28 de outubro de 2010 às 17:47
6-Tibiriçá, Luiz Caldas. Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi.
São Paulo. Traço Editora. 1985
7-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Línguas, UNA. 2006
Assunção. Ediciones y Arte. 1997 (2006)
8-Anchieta, José de. Carta de São Vicente

  





terça-feira, 26 de outubro de 2010

Guaíra


Das seis bacias hidrográficas da cidade de Curitiba, a mais povoada, e, portanto, a que mais tem significado para a população, é a do rio Belém. Dos inúmeros arroios e córregos que desaguam no Belém, boa parte é conhecida e seus nomes compreendidos. Alguns porém, tornam-se obscuros e até mesmo esquecidos. Como exemplo, pode-se citar o ribeirão do bairro Guaíra. Esse rio nasce no bairro do Água Verde, atravessa a Av. Presidente Kennedy e segue através do  bairro Guaíra, desaguando no Rio Pinheirinho, na Presidente Wenceslau Bráz. É o nome desse rio que será o objeto de nossa análise.
Não se sabe, a princípio, qual nome veio primeiro, se foi o do bairro ou do rio. O bairro foi conhecido, desde o desmembramento da propriedade dos Hauer, como Vila Guaíra. O rio, homônimo, pode ser a origem do nome do bairro. Esse fenômeno é comum na cidade de curitiba, como se nota nos rios Vista Alegre, do Capão da Imbúia, ou o córrego da rua Waldemar Loureiro Campos entre outros [1][2][3]. O contrário porém, também é verdadeiro. Nota-se, por exemplo, o rio Bacacheri e Bacacheri miri, que cederam nome ao bairro, conhecido por campo do bacacheri no passado [4][5].
O nome guaíra, originalmente, designava o Salto das Sete Quedas, na fronteira entre Brasil e Paraguai. As setes quedas não existem mais, posto que hoje há o lago de Itaipu no local do antigo acidente geológico. O seu legado toponímico, porém, ainda é verificável, em ambos os países. Citem-se primeiro os municipios próximos ao lago da hidrelétrica: Guaíra, no lado brasileiro, Salto del Guairá, no lado paraguaio. Reflexos se encontram, por exemplo, em Curitiba: o teatro guaíra, o rio guaíra e o bairro. 
O significado de guaíra, segundo Teodoro Sampaio [6], é ‘aquilo que se não há de passar’, advindo do guarani antigo, justamente indicando que as Sete Quedas seriam intransponíveis. A palavra, em tupi antigo, originalmente seria 'i kuae´y´rama'.[7] 
Nota-se, que em já no guarani antigo, ao contrário do tupi clássico (aqui se não inclua o tupi de são vicente), as sílabas átonas finais tendiam a cair, e não se manter em formas absolutas de palavras. Dir-se-ia Jaguá, e não Jaguara, Karai, não Karaiba, Mitã ao invés de Mitanga, entre outros exemplos. Aplicando-se essa lógica ao nome acima proposto, teríamos 'I kuae´yrã'. Um outro ponto forte para essa idéia é o ponto de que, em guarani moderno, a mesma partícula -(r)ama do tupi antigo torna-se apenas -rã.[8] 
A tendência, em português, é de se adaptar os nomes em tupi que terminem em vogal nasal, -ã, em vogal aberta.  Observe-se, por exemplo, o nome de um estado brasileiro: Paraná. Em tupi antigo, assim como em tupi moderno, o vocábulo para rio é paranã, exatamente o mesmo significado atribuído ao nome do estado e do rio. Outros vocábulos que em português se aplicam a esse ponto são nomes como guarani, kiriri, caui, entre outros. Com tal em mente, toma-se a seguinte conclusão, que ao se passar para o português, o vocábulo, num segundo período, teria se tornado de I kua´eyrã para Ikua´eyrá e depois, teria se regularizado para a norma portuguesa, tornando-se guaíra. Em guarani moderno, o nome é guairá, assim como era o nome da redução jesuíta que ali havia, e que foi destruida pelos bandeirantes. Ao se ler a palavra reconstruida,  temos 'i kuae´yrã(ma)' em que, seguindo a regra fonética do tupi antigo e do guarani, põe-se a tônica sobre o -rã. Assim, a pronuncia mais arcaica em português seria, possivelmente, guairá, como ainda é em guarani. 
O nome guaíra, portanto, seguindo a proposição de Teodoro Sampaio, viria do guarani antigo, 'I kuae´yrã(ma)', com o significado de 'que se não há de passar', e teria passado ao português em dois períodos distintos: 

  • Tempos mais antigos, na época das reduções jesuíticas, com o nome Guairá;
  • Em tempos mais recentes, com o nome Guaíra.

A trajetória, do vocábulo, possivelmente, foi a seguinte: 'I kuae´yrã '> 'Kuae´yrã' > 'Kuae´irá'> Kuairá > Guairá > Guaíra. Com isso, portanto, chega-se ao significado do nome do rio e do bairro de Curitiba. Disso advém duas possíveis motivações para o batismo de ambos: ou, por algum motivo que pudesse parecer aos colonizadores de origem paulista e falantes de tupi, ou para os índios que haviam no planalto, que as águas desse rio fossem intransponíveis, ou, em homenagem às setes quedas, noemou-se o rio, ou o loteamento da propriedade dos Hauer. 





Referências
1-Mapa Hidrográfico de Curitiba. SMSA 1996
2-Idem
3-Idem
4-Idem
5-Fenianos, Eduardo. Bacacheri - Tingui- Vamos Voar...
Univercidade, 1999
6-Sampaio, Theodoro. O Tupi na Geographia Nacional. 
Memoria lida no Instituto Historico e Geographico de S. Paulo. São Paulo: Typ. da 
Casa Eclectica.1901
7-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
8-Rodrigues, Daniele Marcelle Grannier. Fonologia do Guarani Antigo.
Mestrado, Unicamp, 1974

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Referências

Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. 
Diccionario Guaraní Español Español Guarani.

Anchieta, José de. Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil
Coimbra. Antonio Mariz. 1595

Hartt, Charles Frederick. Notes on the Lingoa Geral or Modern Tupi of the Amazonas. 
Transactions of the American Philological Association, Vol. 3, pp. 58-76. 1872

Magalhães, Couto de. O selvagem.
Rio de Janeiro. Typographia da reforma. 1876

Moore, Denny; Facundes, Sidney; Pires, Nádia. Nheengatu (Língua Geral Amazônica), Its 
History, and the Effects of Language Contact. Survey of California And Other Indian 
Languages, v.8, pp.93-118. Berkeley: University of California 1993


Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998

Prazeres, Frei Francisco de Nossa Senhora dos. Poranduba maranhense, ou 
Relação historica da provincia do Maranhão […] com […] um dicionario abreviado da 
lingua geral do Brazil. Revista Trimensal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, 
v. 54, pt. 1, p. [4]-277. 1891

Rodrigues, Aryon Dall´Igna. Relações internas na família lingüística Tupi-Guarani.
Revista de Antropologia, vols. 27/28, pp. 33-53 1985

Rodrigues, João Barbosa. Poranduba amazonense, ou kochiyma-uara porandub, 1872-1887. 
Rio de Janeiro: Typ. de G. Leuzinger & Filhos.1890

Sampaio, Theodoro. O Tupi na Geographia Nacional. 
Memoria lida no Instituto Historico e Geographico de S. Paulo. São Paulo: Typ. da 
Casa Eclectica.1901

Sympson, Pedro Luís. Gramática da língua brasileira.
Belém, 1876



Tibiriçá, Luiz Caldas. Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi.
São Paulo. Traço Editora. 1985

Anhangava

O Nome Anhangava vem, de acordo com Sampaio, de Anhanga¹, diabo,
e da partícula circunstancial -aba, e quereria dizer feitiço, maldição, local
de maldição. Uma prova desse ponto é o nome do vale do Anhangabau²,
em São Paulo. Anhangabau significaria, ainda segundo Theorodo, rio da
maldição, de Anhangaba´y(rio). A tradição popular traduz o nome por
casa do Diabo, mas essa tradução não se mantém sob uma análise precisa,
pois não, no nome, nem nos registos, referência a casas de qualquer espécie ali.
Com efeito, para que essa denominação estivesse correta,
deveria ser Anhanguara, de Anhanga e de Kuara, buraco, toca, ninho ou
morada. Para Tibiriçá, porém, anhangava seria uma planta, que, por ser branca,
seria associada ao anhanga³. Por haver muitas margeando um rio, esse rio
teria recebido o nome de rio das anhangabas, ou anhangabaú. Seguindo essa
lógica, o nome do acidente geográfico teria sido dado pela presença dessas
plantas no local.


1-Sampaio, Theodoro. O tupi na toponímia nacional
2-Idem
3-Tibiriçá, Luís Caldas. Dicionário Tupi-português: com esboço 
de gramática de Tupi antigo. 2ª ed. São Paulo : Traço, 1984.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Adjetivos

Em tupi, os adjetivos se montam posicionando, grosso modo, o adjetivo após o
nome por ele alterado. Ex: Ipiranga, que é Rio Vermelho; Kunhã puranga,
isto é, mulher bonita. A inversão dessa ordem modifica o sentido geral da frase.
Como não há verbo ser em tupi, o sentido de cópula se dá pelo posicionamento
das palavras na frase. A frase, portanto, kunhã puranga, pode significar tanto
mulher bonita, quanto a mulher é bonita. O que fará a diferenciação é o contexto.
Em alguns casos, podem ser utilizados pronomes relativos, como uaá, para
aumentar a definição do adjetivo. E.g. Kó Kunhã Puranga, esta mulher é bonita. 
Os adjetivos não devem concordar em número com o nome modificado. Não se
usa dizer kunhãitá purangaitá, mas kunhãitá puranga. 
Para se fazer comparações, usa-se a fórmula pyre, mais, e a posposição suí.
Funciona assim: Ixé katu pyré nde suí; eu bom mais você de. 

Para se obter o superlativo, basta adicionar a particula -inté ao adjetivo. Katuinté:
muito bom, boníssimo. 


Exercícios:
1-Descreva um homem, uma mulher, uma criança e um cachorro. Use
apgaua para homem, kunhã para mulher, taína para criança e iaguara para cão.
Use cinco adjetivos dentre a lista abaixo para cada:
Pituua (pacífico),  Kirimau(valente), Iauainté (Arrogante), Iusyuá (Asseado),
Angauerauapora(Asmático),  Iakuá(astuto), Mupatuka (artodoado), Muporaraua
(atormendtado), Katu (bom),  Puranga (bonito), Piranga (vermelho), Tukana (tucano)


2-Use os mesmos adjetivos acima e estabeleça comparações.

3-Forme superlativos

Tempos verbais

Os tempos verbais em nheengatu são formados a partir de adição de sufixos ou partículas ao fim do verbo, diferentemente dos verbos de línguas européias, que se modificam, às vezes modificando seus próprios radicais. Em tupi moderno, no entanto, basta adicionar algumas particulas que modificam o tempo do verbo ou da frase. 

Não há uma noção temporal intrísseca ao verbo, por isso, o verbo sempre entende-se como presente, ou dependendo do contexto, pretérito. Apesar disso, existem particulas indicadoras de pretérito, pretérito mais-que-perfeito e subjuntivo. Em se tratando de futuro, há a possibilidade de se utilizar um verbo auxiliar, da mesma forma que em português. 


Para o Futuro, utiliza-se a particula ‘kury’, que dá a idéia de que será feito, não exatamente no momento da fala. É o tempo futuro. Pode-se, porém, utilizar-se o verbo ir como auxiliar, tal qual em português. E.g.: eu vou falar: xasu xanhee.  Eu vou matar : xasu xaîuká. 
O termo kury se preporá ao verbo caso seja uma interrogativa. Em caso de negativa, usar-se-á o termo ‘tenhe kury’ e o verbo. E.g.: ‘Irás? Kury resu será? Ele falará? Áe kury unhee será? Não quereremos. Tenhe kury iaputári.

O pretérito perfeito se faz com a adição da partícula -an após o verbo. Como dito acima, não é  obrigatório exceto quando há ambigüidade ou se quer precisão do que se diz. Eg. Xaîuká an uyráita. Eu matei muitos passaros. Áe umáa an musapi auá... Ele viu três homens.

Exercícios:
1- Por os verbos no passado.
a) Áe umáa putári tapuiuna.  b)Mamó uiku Maria será? c) Reîuká Zeca Pagodinho será?
d) Resendu Diogo Nogueira será? e) Reriku remiriku, kuiri ti reriku. e) Iane iau putári. f)Aitá uxipiá Globo novela. g) A´e uaixu  Flamengo. h) Mamé reiku será? i) Ixé xaixu se iaguara. 

2-Traduza as frases acima.
3- Leia as frases acima em voz alta.
4-Ponha as traduções em comentário, para posterior correção

Vocabulário
Îaguara: cão; Iku: estar; -Imiriku: esposa; Kuiri: agora; Ma´ã: ver; Mamé: onde; Mamó: onde; Putári: querer; Riku: ter; Se: meu; Sendu: ouvir; Tapuiuna: negro, pessoa negra;Ti: não; U: comer; Xipiá: ver;
  

Relações entre pessoas

A relação entre as pessoas, em nheengatu, exige menos formas verbais que em outros
idiomas do tronco tupi. Além de não exigir grandes mudanças na estrutura
da frase ou no pronome, utiliza-se muito de posposições, à guisa do tupinambá,
por exemplo. Em guarani, assim como em tupinambá, usa-se da troca de pronome,
como se fora declinação, mas sufixal. Eg. Ixé oroaûsub, che rohayhu, id est, eu te amo,
em tupinambá e em guarani. Em tupi moderno, porém, bastaria pronunciar ixe xaxaixu 
nde. Assim como no exemplo, em nheengatu, não há mudança pronominal 
de acusativo entre pronomes pessoais.  Não se precisa falar oro-, ou ro-, ou opo-, 
po-, mas apenas, pee, nde, ixe e tal. 

Há casos, porém, em que se pode usar a forma arcaica de colocação pronominal,
com a pósposição supé. Pode se notar, em lendas escritas no século XIX, a existência
de Ixeu, que é a forma moderna de Ixébe. O significado desta palavra é 'para mim'. 

Algumas preposições podem ser usadas para marcar a relação entre as pessoas.
Apesar de serem objeto da aba 'preposições',  podem e dezem ser exemplificadas aqui:

Arama= para
Supé=Para
Suí=de

São posposições porque, ao contrário do português, são colocadas após o nome: 
1- Xa munha arama - Para eu fazer
2- Ixupé? Para ele?
3- A´e uaixu carro Pedro Suí- ele amou o carro de Pedro.

Substantivos

O idioma nheengatu, diferentemente de outros idiomas da mesma filiação, como o
Guarany Jopara ou o tupinambá, não possui 7 pessoas, mas seis apenas: três do singular
e três do plural. Em tupi clássico, assim como em guarany moderno, existem duas formas
de 1ª pessoa do plural: inclusiva e exclusiva. A primeira pessoa inclusiva, era aquela
que incluia o ouvinte, ou algum referido. Já a primeira pessoa exclusiva, exclui o ouvinte
ou o referido. Tais formas, porém, não se encontram em tupi moderno, que se utiliza
apenas, do que, em tupi clássico ou em guarany seria a forma inclusiva. 

Os outros pronomes, grosso modo, assemelham-se ao uso lusitano, sendo,
também utilizados para outros fins, que não de substituição nominal.
Em alguns casos tornam-se pronomes possessivos, ou adjetivos. A série
principal de pronomes pessoais em nominativo são os seguintes:

     
Ixe               Eu
Nde           Tu  
      A´e              Ele/Ela
Iané             Nós
Pee             Vós
Aitá             Eles

Os pronomes pessoais em nominativo, são usados também para a forma em acusativo,
sem mudança de pronuncia ou forma, apenas adicionando-se posposições.
E.g. 'Ixé aiûká a´e auá nde arama'-eu matei aquele sujeito para você. 
Esses pronomes também podem funcionar como objeto direto, como na espressão
'ixé xaixu nde'-eu te amo. O uso desses pronomes é recomendado também
como reforçador de intensidade de verbos, como por exemplo, na frase acima, em
que está escrito Ixé xaixu, quando, o esperado seria ixé axaixu. Essa variação
ocorre, porque, na verdade, se usa falar ixé xe axaixu, ou seja, é como se dissesse
'eu eu amo', dando maior ênfase no verbo. Usa-se muito em primeira pessoa, nem
tanto nas outras. 

Vogais

As vogais do nheengatu são as seguintes:
A, E, I, O, U.  O valor de cada vogal é único, e de simples aprendizado. 
A------------------------ pronuncia-se 'a', como em gato, amor ou anjo.
E------------------------ pronuncia-se como 'ê' em português, podendo também soar 
como 'é' aberto. 
I-------------------------  pronuncia-se como i em português.
O------------------------ pronuncia-se como 'ô' em português, podendo ser 
pronunciado 'ó' aberto.
U----------------------   pronuncia-se como u- em português, como em urubu. 

Existe ainda uma outra vogal, que caiu em desuso em muitos locais, a qual,
ainda hoje, é produtiva em guarani. Trata-se de 'y', cujo som é próximo ao 
que se obtém ao articular-se para pronunciar 'u' e a boca está em forma 
para pronunciar 'i'. Em tupi antigo é mais comum.

Exercícios:
1-Pronuncie as frases abaixo:
Ixe xapúderi putári- Eu quero poder (ser capaz de).
Xaîku Karîuka upe- Eu moro no rio de Janeiro
Tá aûáta uîku Piratininga upe- Eles moram em São Paulo
Auáta´a uîku kuritiûa upe será?-Quem mora em Curitiba?
'Cembûia Ypyranga suí pitûua usenu kirimaûa sasemusu'- Ouviram do Ipiranga as 
margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante.

Consoantes

As consoantes do nhengatu são as seguintes:
G, H, Î K, Kw, M, Mb, N, Nd, P, R, S, T, Û, X.  O valor de cada consoante é
único, e de simples aprendizado. 
G------------------------ pronuncia-se guê, como em gato, guerra, guiñazu.
H------------------------ pronuncia-se aspirado, como em palavras inglesas, tais
quais home e house. É rara.
Î-------------------------  pronuncia-se como semi-vogal, pondo-se a ênfase sobre
 a próxima vogal, justa-posta a ela.
K------------------------ pronuncia-se como k em português.
Kw---------------------- pronuncia-se como qu- em quando.
M------------------------ Pronuncia-se como M em português. Não causa nasalização.
Mb---------------------- pronuncia-se como B em português, com uma leve nasalização
pronunciada antes. Soa como em tambor.
N------------------------- pronuncia-se como em português, mas não causa nasalização.
Nd----------------------- pronuncia-se como na palavra portuguesa 'quando'
P------------------------  pronuncia-se como no português 'português'
R------------------------  pronuncia-se como 'r' entre duas vogais, como em 'caro'
S------------------------  Pronuncia-se sempre como 's' em começo de palavra.
T------------------------  Pronuncia-se como em português, inclusive antes de 'i'.
Û------------------------ Pronuncia-se como semi-vogal em português, como em 'uau' 
X-------------------------------- pronuncia-se como 'ch', como em  cachorro, ou em xadrez.

Exemplos:
Ixe xaîuka mukûi aûá! -Eu matei dois homens
Ma´ata´a reriku será?- Que coisa tens?
Mamó repyta ne paûa será?- Onde fica teu pai será?
Ta Kariuata unhe´en português rupi- Os Brancos falam português
Tupã uxaîsu upanhe auá- Deus ama a todos os homens

Exercícios
1-Leia as frases acima, cuidando com a pronúncia
2-Leia a seguinte oração católica, focando não no religioso, mas na pronúncia
Áve María,
Ine puránga rete,
yane Yára u iku ne irúma,
yumumeu katu ine amuita kunhã píri i
yumumeu katu ne memíra Yesu.

Sánta María,
Tupána mánha,
re yurure yane puxiwéra rese,
kuíri i ya manu rame.
Yawe-te!

Alfabeto

O idioma Nheengatu não possuia alfabeto padronizado, como é o caso do
idioma português, do espanhol ou outros. Na verdade, a escrita dependia de
quem escrevia, de seu idioma original e de sua interpretação dos sons.
Podemos citar, como exemplo, o texto clássico de Hans Staden, em que
palavras simples se transformavam, de acordo com o idioma alemão do náufrago.
Diversas tentativas de padronização já ocorreram, em diversos
períodos, propostas por diversos autores. Simpson, por exemplo, sugeria o uso
do 'h' como sinal de pausa glotal. Já para Couto Magalhães, era mister repetir
a vogal, sem um sinal específico de oclusão. Ainda segundo Magalhães, usava-se
a letra 'o', mesmo em palavras que, para Simpson, fossem escritas com u.
Usando essa dicotomia, por exemplo, teríamos: 'hu iku', para Simpson e 'oiko',
para Magalhães, pronunciando-se ambas da mesma forma: 'u-iku', ele está. 
Da mesma forma, a incubadora da wikipedia em nheengatu sugere que se utilize,
para a mesma palavra, a forma 'wikw' usando o 'w' como semi-vogal. Pensando
nesse princípio, por questões metodológicas, propomos a utilização do alfabeto
do Tupi Clássico sugerido por Navarro. Por ser uma padronização, que tenta
refletir padrões próprios do português, sem influências em questões íntimas da língua,
é a que melhor se apresenta para o aprendizado neste sítio.
Deixamos claro, porém, que utilizaremos materiais que divergem desta postura,
e, em ocasião oportuna, explicaremos outras formas de grafia, para que se
possa utilizar sempre compreender as diferentes formas de se escrever em nheengatu