terça-feira, 1 de março de 2011

Rio Ivaí


O estado do Paraná cresceu em função dos rios que correm em seu território. Além da capital, que toma a forma de um coração, em seus rios, há o vale do Iguaçu, do Paranapanema, do próprio Paraná, do Pequiri e do Ivaí. Destes, apenas o Pequiri e o Ivaí nascem, correm e desagüam dentro do Estado, e, dentre estes dois, é o mais longo. Por esse motivo, analisaremos seu nome.
A nascente do rio Ivaí fica no município de Prudentópolis, após a união dos rios São João e dos Patos, nas coordenadas   25° 1'13.50"S 50°58'25.88"W. Desse ponto o rio segue em direção a noroeste, por 685 quilometros, até sua foz, no rio Paraná, na divisa entre Icaraíma, que fica ao sul, e Querência do norte, ao norte. É um dos rios mais importantes do estado do Paraná também pelo seu aspecto histórico: várias colonias espanholas e missões surgiram na região, que era da província do guairá[1][2]. A principal dessas reduções era a Villa del Spiritu Sanctu, que foi erigida na foz do rio Corumbataí, e destruida pela expedição bandeirante liderada por Raposo Tavares[3]. Hoje, distando aproximadamente 4 quilometros da foz do corumbataí, está localizado o municipio de Fênix[4].
O nome Ivaí pode ser interpretado de várias formas. A mais evidente, mas nem por isso válida, atribui o nome ao guarani '´Yvai', ou rio feio, de ´'y´ rio, água, e ´vai´, feio. Não se aplica essa informação, porque em guarani, temos 'Yva' para fruta. Tal dado nos leva a crer que ao invés de ser um rio feio, como se sugere a primeira análise, mas sim o rio da fruta.[5] Tal análise também tem ecos no tupi. Em tupi clássico, temos 'Ybá' para fruta, e em nhe´engatu, temos 'Yuá'[6][7].
O nome do rio pode ser de origem guarani, como se disse acima, mas também pode ser de origem tupi. Como demonstrado, a palavra para fruta em tupi é próxima à palavra guarani, e essa aproximação pode ter sido maior. Registra-se, em tupi austral, palavras que em moderno seriam faladas com '-u', são pronunciadas com '-v', assim como em guarani[8][9][10][11].
Tupi Clássico  Tupi Austral               Tupi Moderno           Guarani     Português
Aoba              Aova                           Ropa                        Ao            Roupa
Angaîbar       Angaivara                 Angai                      Anga*     Magro
Tekobé          Ikové                          Sekûé                      Ikove       Viver


As palavras listadas são exemplos dessa aproximação do tupi austral ao guarani. Vendo isso, não se torna impossível, portanto, que o nome Ivaí seja originado do Tupi Austral, ou que se tenha confundido com esse, pela proximidade da pronúncia. Como outros exemplos dessa proximidade, temos a cidade de Itaverava, em Minas Gerais, que é cognato da cidade de Itaberaba, na Bahia. Ora, Minas Gerais era território bandeirante e nota-se esse fenômeno[12][13].
O nome Ivaí, portanto, pode ser originário do guarani, pela proximidade territorial, ou pode ser bandeirante, pelos motivos apresentados acima. Assim como Paranaguá, é topônimo que se encontra na fronteira da zona de influência de dois idiomas, e por isso não se pode afirmar com certeza.

*A palavra Anga em guarani moderno representa a idéia de pobreza, tristeza, e portanto é semanticamente próxima à palavra angaîbara, que representa magro. Outras palavras com esse radical são Angaipa, pecado, Angaipava, pecador. A palavra Angai, em si, é advérbio, significa lastimosamente, tristemente. A palavra para magro é Piru.

Rio Ivaí Ao longo. As linhas brancas são rios.

Acessado dia 01 de março de 2011 às 16:00
2-Idem
3-Ibidem
Acessado dia 01 de março de 2011 às 16:20
5-Acosta, Feliciano; Canese, Natalia Krivoshen de. Diccionario Guaraní Español Español Guarani.
Assunção. Instituto Superior de Lenguas, Universidad Nacional de Asunción. 1997
6-Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo
Petrópolis, Vozes, 1998
7-Magalhães, Couto de. O selvagem.
Rio de Janeiro. Typographia da reforma. 1876
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:00
9-Stradelli, Ernano. Vocabularios da lingua geral portuguez-nheêngatú e nheêngatú-portuguez, precedidos de um esboço de Grammatica nheênga-umbuê-sáua mirî e seguidos de contos em lingua geral nheêngatú poranduua. 
Rio de Janeiro. Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Tomo 104, Volume 158, p. 9-768 1929
10-Idem a 5
11-Idem a 6
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:30
Acessado dia 01 de março de 2011 às 17:40

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